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Engenheiro Agrônomo Fernando de Andrade Presidente AEASE
 A pesquisa agropecuária no Brasil nasceu como uma proposta de abordagem setorial, voltada fundamentalmente para beneficiar o nascente setor agrícola, com uma visão de torná-lo competitivo e ampliar sua capacidade de gerar divisas e produzir alimentos para uma população crescente e uma sociedade em início do processo de industrialização e urbanização.
 No plano mundial, a tarefa de estruturar uma agricultura sustentável para prover alimentos, energia, fibras, serviços ambientais, irá requerer o empenho de vários agentes, a exemplo dos governos, gestores públicos e iniciativa privada, para atender a uma população que deverá atingir mais de 9 bilhões de habitantes em 2050. Para isto, deverão ser estabelecidas ações e políticas públicas adequadas, influenciando o setor privado a produzir, comercializar e processar o que é demandado pelos mercados interno e externo e exigindo, sobretudo, da ciência o desenvolvimento de conhecimentos e tecnologias capazes de assegurar a oferta de alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, ambientalmente corretos e socialmente justos.
 No plano estadual é simples verificar, a história recente não nos deixa mentir o quanto o estado de Sergipe involuiu em termos de ações de política agrícola de estímulo e fomento à pesquisa. Em Sergipe, o registro mais antigo da pesquisa agrícola deu-se no governo de Maurício Graccho Cardoso, em 1922, quando foram implantadas diversas áreas experimentais com a cultura do algodão, visando desenvolver um programa de melhoramento genético dessa cultura. Em sequencia, no ano de 1933, foi implantado em Aracaju o campo de sementes de coqueiro vinculado ao Serviço de Fomento da Produção do Ministério da Agricultura, iniciando a pesquisa com a cultura do coqueiro que persiste até os dias atuais.
 Na década de 50, sob a égide do Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Leste - IPEAL, foram criadas três estações experimentais (Quissamã, Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora da Glória). Nos idos de 1975, no então governo de Augusto Franco, fora instituída a Unidade de Pesquisa Experimental de Boquim - UPEB, unidade vinculada a então Superintendência da Agricultura e Produção - SUDAP, criada para desenvolver ações de pesquisa em fruticultura, atividade âncora da economia estadual na região centro sul do Estado, com destaque a cultura do citrus, extensivo às culturas de maracujá, mamão, abacaxi e acerola. Ainda, nesse mesmo ano foi  incorporada à estrutura de pesquisa estadual a Estação Agrícola Antônio Martins, no município de Lagarto.
 Em 1988, é fundada a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Sergipe - EMPEASE com o objetivo de conduzir a política de pesquisa estadual nas áreas de fruticultura, milho, feijão, mandioca e hortaliças. Em 1991, a empresa foi extinta através de reforma administrativa do Estado, sendo todos os trabalhos absorvidos pela Secretaria de Estado da Agricultura, do Abastecimento e da Irrigação, passando a pesquisa a ser executada mediante convênio celebrado entre SEAGRI/EMDAGRO e EMBRAPA. Nos últimos anos, porém, a pesquisa agropecuária estadual vem experimentando momentos de incerteza administrativa e decadência, observando-se uma precarização e desmonte pelo governo estadual.
 Há que se considerar que vivemos novos tempos, onde predomina uma sociedade forjada na matriz do conhecimento e da informação, caracterizada por criar e fortalecer paradigmas de forma inusitada e transformadora. Nesta perspectiva, projeta-se como uma tendência futura quase que natural, o perfil de uma sociedade formada por elevado contingente predominantemente urbano, com maior nível de renda, com expressivo número de idosos, população efetivamente mais esclarecida, e, portanto, com demandas bem definidas no tocante a questões econômicas, sociais, ambientais, e, de modo especial, preocupada com o consumo de alimentos saudáveis e com a produção de resíduos poluidores, em síntese, muito mais desejosa e exigente por qualidade de vida e bem estar social.
 Nesse contexto, a pesquisa agrícola reveste-se reconhecidamente de papel preponderante e decisivo no sentido de oferecer informações e tecnologias que assegurem a consolidação de sistemas agrícolas. Segundo Buchman et al. (2010), é fundamental que informações atualizadas sobre a ciência sejam divulgadas para os responsáveis pela construção de políticas e para os legisladores, mantendo um canal de comunicação contínuo que facilite as tomadas de decisões em favor da agricultura. Em nível individual, destaque-se que a decisão do produtor depende diretamente da sua capacidade de adotar tecnologias, da sua habilidade para utilizá-las eficientemente e para lidar com o mercado, assim como das suas aspirações e valores.
 Convém destacar que os avanços alcançados pela pesquisa científica e tecnológica, em qualquer segmento, constituem componentes do desenvolvimento social apenas quando incorporados às respectivas cadeias produtivas. A inovação obtida tem de ser repassada e utilizada adequadamente pelo usuário, pois, só assim, representará uma inovação útil. Observa-se que tal repasse ocorre em razão direta da interação entre o produtor (conhecimento, produto, tecnologia, processo, serviço) e o seu usuário, sendo a qualidade de tal interação o ponto mais importante desse relacionamento.
  É preciso reconhecer, porém, que os produtores rurais estão, cada vez mais, dependentes de informações e de tecnologias para poderem tomar decisões que atendam às suas necessidades de produção e satisfaçam às novas demandas da sociedade. Tais decisões têm de ser tomadas em sintonia com as orientações relativas às questões ambientais, às forças políticas, às exigências sociais e econômicas, bem como consoante as demandas do consumidor.
 Neste contexto, faz-se mister a necessidade de construção de uma agenda futura de maior integração entre a pesquisa agropecuária e as políticas públicas, reconhecendo que o Estado ainda tem um papel fundamental na promoção da inovação no meio rural, de modo a atender aos desafios demandados pela sociedade urbana. As instituições de pesquisa agrícola necessitam assumir um papel proativo na solução dos problemas da agricultura, ao mesmo tempo que capitalizam as oportunidades que as favorecem. É fundamental que as redes de comunicação tecnológica sejam fortalecidas e  que haja uma integração efetiva entre elas e as instituições de pesquisa.
 Na contramão do cenário agrícola mundial, o governo do estado de Sergipe, infelizmente, no afã de reduzir despesas, equivocadamente, elegeu a pesquisa agropecuária como atividade dispensável, ignorando o investimento científico como fator de geração de conhecimento e tecnologia, denotando miopia e visão retrógrada de desenvolvimento agrícola, simplesmente mata por inanição o convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Embrapa e condena toda a atividade agrícola estadual ao atraso tecnológico, ao subdesenvolvimento econômico e social.
A melhor maneira de predizer o futuro é criá-lo.
Peter Ferdinand Druker
Escritor, professor e consultor de ciências sociais, pai da Administração Moderna

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