O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância da transposição do rio São Francisco e da construção de cisternas para solucionar o problema da falta de água no semiárido nordestino e para garantir melhores condições de vida para o povo da região. Resolver a questão do acesso à água, de acordo com ele, é o mínimo que o Estado tem que fazer. Em entrevista à rádio Progresso, do Cariri cearense, na tarde desta quinta-feira (17), o ex-presidente lembrou o legado dos governos petistas e destacou que foi nesse momento que o Brasil tirou da gaveta um projeto dos tempos do império, a transposição do São Francisco, para dar conforto a estados que sofriam muito com a seca.
“A gente estava cuidando de levar água para o Nordeste porque, mesmo Dom Pedro
sendo imperador, ele não conseguiu fazer a transposição do São Francisco. Nós
teimamos e fizemos, e essa transposição ficou 88% pronta no nosso governo”,
disse Lula, ressaltando ainda que só os governos petistas construíram 1,4
milhão de cisternas em todo o país. “Só quem vê o sofrimento do cara ver o seu
cabritinho, o seu bodinho morrendo de sede, sua vaquinha morrendo de sede, não
tendo comida para dar é que sabe a importância de fazer a transposição do Rio
São Francisco, de fazer 1,4 milhão de cisternas, como fizemos pelo país afora”,
declarou.
Uma obra dos governos petistas
A fala de Lula acontece em um momento em que, por causa do ano eleitoral, há
quem queira se apropriar da paternidade do projeto para tentar conquistar votos
da região beneficiada pela chegada da água. Mas quem é do Nordeste sabe que,
depois de anos na gaveta, ignorado por diferentes presidentes, o projeto da
transposição do São Francisco só saiu do papel no governo Lula. E foi no
período dos governos petistas (Lula e Dilma) que foi executada quase 90% da
obra.
Quando a ex-presidenta Dilma Rousseff deixou o poder em 2016, retirada pelo
golpe, 88% da transposição já tinha sido executada. Pouco a pouco, o quinto
maior rio do país cumpria sua sina e chegava a outros cantos originalmente fora
de sua rota, graças às intervenções da transposição. A cada canto novo onde as
águas do São Francisco chegam, chega também alegria nova para um universo de
nordestinos que sabem que a transposição só existe por iniciativa direta do
presidente Lula.
Inauguração sem água do rio
Já o presidente Jair Bolsonaro, que não tem nenhuma obra relevante para chamar
de sua, que tenha sido pensada por seu governo para melhorar a vida das
populações mais pobres, tenta capitalizar para si os louros das obras dos
governos petistas. E faz isso com muita trapalhada. Segundo noticiou a
imprensa, na semana passada, por exemplo, em viagem ao Rio Grande do Norte para
inaugurar o chamado Eixo Norte, que levará água do São Francisco para o estado
potiguar, Bolsonaro fez a inauguração sem uma gota de água que tenha vindo do
velho Chico. O ato simbólico de aspersar água do rio durante a cerimônia foi
feito, na verdade, com água de dois carros-pipa.
Especificamente no ramal do rio Piranhas-Açu, que o presidente inaugurou e
posou para fotos, a água chega pelo rio, vinda da barragem São Gonçalo, na
Paraíba. Pelo projeto da transposição, a água do São Francisco servirá para
perenizar o Piranha-Açu nos períodos de seca. Sempre que for preciso, abre-se
um cifão na barragem São Gonçalo para que a água do São Francisco chegue ao Rio
Grande do Norte.
Por erro de cálculo da equipe técnica do governo Bolsonaro, o cifão foi aberto,
mas não a tempo de chegar para o evento presidencial. Sem água, a suposta
inauguração foi, na verdade, um teatro. Importante lembrar que nesse ramal do
eixo Norte não houve nenhuma obra estruturante da transposição no RN. Como o
papel da água do São Francisco é perenizar o rio, ela chega pelo curso d´água
do Piranhas-Açu ainda na Paraíba e entra no estado vizinho sem necessidade de
canais, por exemplo.
Mas que obras da transposição
o atual governo fez no Rio Grande do Norte? Efetivamente, nenhuma. O outro
ramal do eixo Norte, o Apodi-Mossoró, que levará água para a região oeste do
Estado, depende de obras estruturantes como canais e estações elevatórias, mas
nada foi feito ainda. O governo Bolsonaro quer capitalizar a autoria de obras
pelas quais pouco ou nada fez.